É engraçado como algumas coisas acontecem na vida, e como as pessoas veem.
Quando decidi morar no Japão, eu sabia que ia trabalhar em fábrica, até porque não sabia nada de japonês,.
O tempo passou, aprendi um pouco de japonês, melhorei meu inglês (que ainda é ruim), conheci muitas pessoas e me integrei a sociedade, me acostumei e gosto daqui, vou em eventos locais, assito os programas, ouço as músicas daqui, e não, eu não virei japonês, como dizem alguns brasileiros que preferem viver em seu mundinho verde e amarelo, e muitas vezes dizem odiar o Japão, e reclamar de muitas coisas daqui, e curiosamente sempre são as pessoas que nunca se interessaram pela cultura local, reclamam que é ruim trabalhar em fábrica, que empreiteira explora os trabalhadores, e acham que quem trabalha fora da fábrica tem a vida boa, e coisas do tipo.
Nunca achei ruim trabalhar em fábrica, mas esse ano tive a oportunidade de sair, e desta vez sem medo de assumir o risco, sai e fui trabalhar com comunicação, a principio eu iria gerenciar o conteúdo de alguns clientes para a web, mas logo no começo as coisas mudaram, descobriram que eu tinha conhecimento em fotografia e arriscaram me colocar para trabalhar como produtor de comerciais (isso inclui catálogos, banners e todo tipo de comunicação visual de uma marca), felizmente me dei bem nessa área, aprendi muita coisa e o pessoal gostou do meu jeito mais descontraído, que ao invés de cobrar de maneira mais dura, eu tentava estimular o pessoal brincando (sim, eu tento ser engraçado), tirando sorrisos, e começar o dia bem humorado, até porque muitas vezes o dia começava muito cedo, e apenas algumas horas após ter terminado o dia anterior, sempre fiz isso por achar que um sorriso verdadeiro seja fundamental nesse tipo de trabalho, pois podemos transmitir uma imagem mais verdadeira, uma energia diferente, nesse caso conseguir um sorriso, e começar o dia com um alto atral, é bem melhor do que iniciar com uma reunião com cobranças.
Nesse meio tempo conheci muitas pessoas, nenhuma amizade profunda, pois cada dia estamos trabalhando com pessoas diferentes, mas consegui ter um feedback bacana e fui indicado para um trabalho que poderia ser “dos sonho”, trabalhar com um grupo famoso, ter um aumento no salário e no bônus, porém, aaah, sempre tem um porém! Porém, posso esquecer de ter uma vida social razoável.
Passo dias em reunião ou em estúdios, semanas fora produzindo os grupos de fora que fazem parte da mesma empresa, e tudo isso cansa muito, tem gente que acha que fico viajando de férias, acha que não trabalho, queria eu que fosse assim.
No inicio é legal, você viaja, conhece pessoas novas (não dá muito tempo de passear), quando da tempo conhece alguns lugares, mas com o tempo isso cansa e você sente falta de casa (não sinto falta do Brasil, o Japão é minha casa), sente falta de tempo para sair com os amigos, os que mora mais perto ainda consigo ver uma vez por mês, e olhe lá, mas os que moram mais longe vejo raramente, e pode parecer que não, mas eu sinto falta disso.
Ir a festas de clientes, sair com os amigos depois do trabalho também é legal, mas o problema é que de uma maneira ou outra, sempre estamos ligados ao trabalho, as vezes resolvemos coisas do trabalho na mesa do bar, isso porque alguma ideia surge.
Nas festas você conhece pessoas novas e tudo acaba envolvendo negócios, claro que muitas vezes é divertido pra caramba, mas acabo indo com a cabeça meio no trabalho, e isso cansa, isso enjoa.
Quem tá de fora acha que é só festa, todo dia é bar, toda semana tem festa, mas ninguém vê o outro lado, ninguém esta vivendo isso, todo dia eu e os meu colegas de trabalho vamos para o bar, porque é o único momento que temos fora do trabalho para poder “curtir”, estamos todos no mesmo barco.
Mesmo que eu esteja enjoado dessa vida, procuro diariamente estimular quem trabalha comigo, gosto de muita gente que faz parte da equipe, mas muitas vezes durante o dia penso em largar o trabalho e voltar para dentro de uma fábrica, ter meus fins de semana, meus feriados, e sair cedo do trabalho, e não adianta falar que não sei o que estou falando, pois eu sei bem, trabalhei 8 anos dos meus 9 aqui dentro de uma.
Sou capitalista e uma das poucas coisas que me seguram no trabalho é o salário, não irei negar, mas não sei por quanto tempo esse dinheiro me segura, não vou dizer que não estou feliz, porque eu até gosto do que faço, mas também gosto de ter mais tempo livre, e gosto mais ainda de curtir alguns dias com meus amigos, vou esperar pois sei que essa fase pode passar, e logo mais poderei sair do projeto atual, ter mais tempo livre, viajar menos, e poder me divertir mais, mas também pode não acontecer, e posso muito bem abrir mão de ganhar mais dinheiro para ter mais tempo livre, nunca achei que diria isso, mas pode realmente acontecer.
Não se trata apenas de fazer o que gosta, ou de ganhar muito dinheiro, ter tempo para curtir também é fundamental, e uma hora isso faz falta.
Uma coisa que costumo ver nas redes sociais é gente falando que “seu lugar/sua casa” é onde você nasceu, se referindo a terra de origem, acho isso completamente equivocado, até porque se fôssemos levar ao pé da letra, não sairia nem da cidade de onde nasceu.
Penso que a minha casa é o lugar onde escolhi viver, onde me sinto bem, e se eu não me sinto bem onde nasci, vou procurar um lugar melhor, talvez as pessoas que citam tal frase, não conseguiram de adaptar bem, ou não conseguem lidar com algumas dificuldades encontradas fora, mas dificuldades teremos em qualquer lugar, seja onde nascemos ou onde escolhemos morar, mas as pessoas acham mais fácil ficar na sua zona de conforto, e isso pode ser ruim, pois impede a evolução.
Quando você escolhe morar fora, ainda mais estando do outro lado do mundo, é comum sentir saudades da terra natal, afinal, sempre ficam amigos e familiares, mas a vida é assim, você não vai estar sempre ao lado dessas pessoas, mas elas podem te apoiar independente da distância, uma hora você se afasta de alguns amigos, e a vida é sempre assim, desde quando começamos a estudar.
É muito fácil e confortável achar que a minha casa é o lugar de onde eu vim, e correr pra lá em qualquer momento de dificuldade, mas e enfrentar as dificuldades do lugar onde escolhi viver, isso não pode trazer mais conhecimento? Aprender a lidar com algumas situações é melhor que correr delas, e é isso que vejo em alguns casos.
A pessoa pode não se sentir bem onde ela escolheu viver, isso acontece, a pessoa pode ir embora e procurar um lugar melhor, mas tem gente que vive reclamando, e não faz nada, não tenta entender a cultura do lugar onde ela escolheu viver, saber respeitar os costumes locais e integrar-se na sociedade local é fundamental, pode ser difícil no começo, mas tudo que é novo demanda um tempo para adaptação.
Sua casa é onde você se sente bem, independente do local, dificuldades sempre haverão, e é necessário aprender a lidar com eles, e não fugir, se você não se sente bem em um local, tente ver o porque, se viu que não vai conseguir se adaptar, mude, mas não fique inerte reclamando, pois tudo evolui, e ficar parado reclamando, não leva a nada, volte para “sua casa” se achar necessário, mas não fique reclamando que o local onde você escolheu viver é ruim, pois ele te acolheu, e a escolha foi sua de sair da “sua casa”, a culpa da sua falta de preparo não é da sociedade do local onde você decidiu viver.
Não é uma exclusividade dos brasileiros, mas é algo que os conterrâneos levam muito a sério, o tal do status, é impressionante como os brasileiros se preocupam tanto com isso e como julgam as pessoas das maneiras mais bizarras possíveis.
No Brasil andar de transporte público é sinal de pobreza, ter status é ter um carro mil parcelado em uma vida e ficar parado no congestionamento, coisa que não ocorre em muitos países desenvolvidos e com uma população que está mais preocupada com o própria vida.
Aqui no Japão mesmo vejo que muitos se preocupam em andar com roupas de marca e mostrar a marcar/etiqueta e o valor que pagaram ou gastam, não acho errado a pessoa comprar algo que ela goste e que conquistou com o duro trabalho diário, mas não entendo a necessidade de mostrar e ostentar algo o tempo inteiro, essa necessidade de se afirmarem na sociedade é algo que eu realmente não entendo.
Quando é um adolescente querendo fazer isso até consigo entender um pouco, pois ele está se formando e quer provar algo e mostra que está ali. Alguns homens também acham que é necessário usar roupas de marca e ter carro para conseguir pegar mulher, até pode ajudar em alguns casos, mas só com as mais futeís, até porque você pode muito bem se vestir bem gastando pouco, e economizar dinheiro não é coisa de pobre, aliás, consciência financeira é algo que poucos tem.
Pedir desconto não é feio, querer economizar e ter reserva financeira é algo muito inteligente e que aprendi com o tempo, não é preciso andar com roupas de marca para mostrar poder, até como disse um amigo que assim como eu anda de crocs e meia por ai: “O que manda no mundo não é a maneira como me visto, e sim o meu dinheiro”.
Não me privo de comprar algo de alguma marca famosa, se eu achar bonito vou lá e compro, mas não sinto necessidade de ir em uma loja de grife para comrpar roupas, se até o Silvio Santos compra roupa no Wallmart porque eu não posso usar roupas da H&M, uniqlo e shimamura?
Talvez essa necessidade de usar apenas roupa de grife tenha a ver com autoestima, não sei se existe algum estudo para isso, mas talvez no caso dos guris eles se sintam mais “poderosos” ostentando uma marca no peito para conseguir “conquistar” alguma guria, e no caso dos adultos talvez seja uma maneira de compensar algo que nunca puderam ter, e isso não é errado, muitos fazem isso sem a necessidade de ficar exibindo suas conquistas.
E no Brasil ocorre a mesma coisa, as pessoas sentem a necessidade de mostrar serem algo que muitas vezes não são, e é algo conflitante, pois os que conseguem sucesso e gastam seu dinheiro comprando seus bens e fazem isso sem alarde, parte das pessoas tratam de desmerecer tal sucesso.
Você pode ser uma pessoa bem de vida, mas se entrar em uma loja usando bermuda e crocs a vendedora não vai lhe atender bem, pelo menos até saber que você tem dinheiro, é impressionante como as pessoas acham que você é o que você veste. Claro que você não vai sair igual um mendigo, mas se você entrar em uma loga com uma camiseta normal sem nenhuma marca aparente e outra pessoa entrar contigo com um grande número ou um homem em um cavalo, certamente a vendedora chegará na outra pessoa, mesmo que ela tenha parcelado sua camiseta em 5 vezes e vá fazer o mesmo na loja, e você vá pagar suas compras em dinheiro, mas como vão saber disso se você não está mostrando seu “poder” aquisitivo através das roupas.
Para brasileiro utilizar transporte público é coisa de pobre, mas isso não acontece em países onde o sistema é eficiente, e você gasta muito menos dinheiro e se locomove muito mais rápido usando transporte público, o carro de fato é algo que facilita em muitos casos, mas em muitos países não define status.
É preciso que algumas pessoas aprendam que as roupas que você veste, o carro em que andam, as marcas que ostentam não são o seu extrato bancário, e que não é feio você usufruir seu dinheiro, mas não precisa ser babaca e querer ficar exibindo isso, pode parecer algo conflitante para alguns, mas não é nada complicado fazer isso, muitos ainda não aprenderam a balancear, um dia ainda chegaremos lá, dai sim o Brasil caminhará para ser de fato um país desenvolvido.
Depois que passei a viver fora do Brasil e tive contato com pessoas de várias nacionalidades diferentes, comecei a perceber os diferentes valores de cada sociedade, a maneira como agem, reagem e se comportam.
Muitas coisas podem chocar uma pessoa e ser normal para outra, tudo depende do ambiente no qual crescemos e da maneira como fomos educados, porém, mesmo estranhando um valor, ou atitude diferente, cabe a nós respeitar tal costume, por mais estúpido que ele possa parecer.
Já parou para pensar que o que é errado para uma determinada comunidade pode não ser para outra? E isso acontece com muita frequência na nossa sociedade, principalmente quando são questionados valores morais.
Darei um exemplo muito chocante e errado para talvez 98% da sociedade mundial; O fato de algumas tribos africanas queimarem os gays, pessoas elas julgam ser bruxos, ou amaldiçoadas, há vídeos na internet mostrando esses atos considerados irracionais pelas maioria de nós, mas já parou pra pensar que para a aquela determinada tribo aquilo é normal? Eles foram criados dentro dessas diretrizes, onde ser gay, ou ter conhecimento digamos que “científico” é algo errado e punido de forma brutal.
Países teocráticos e na grande maioria islâmicos, também tendem a agir legalmente de maneira que aos nossos olhos é muito errado.
Mas os exemplos citados acima são muito radicais, então em uma esfera menor e que pode estar no nosso convívio social, pessoas que fazem sexo casual, ou que tem amigos com benefícios. Muitas pessoas acham isso um absurdo, mas para outra é apenas um comportamento normal no qual se pode aproveitar a vida de uma maneira sem compromisso; E o fato de você não se prender a uma pessoa não vai definir o seu caráter e nem quer dizer que você uma hora não queira ter um compromisso sério, mas em determinado momento da vida você adotou um estilo mais liberal, e isso também não quer dizer que a pessoa vai sair por ai falando para todos que esta comento meio mundo.
Aliás, pessoas com uma vida sexual mais liberal raramente demonstram isso para toda a sociedade, até por saber a reação que isso pode causar em algumas pessoas, mas ela convive em um discreto grupo que compartilham do mesmo estilo de vida e convivem normalmente sem fazerem alarde, e mesmo achando isso um estilo de vida até melhor naquele momento, não saem por ai pregando um liberalismo, apenas vivem bem com suas vidas.
Um outro valor muito discutido é a homossexualidade, enquanto algumas sociedades aceitam isso de boa, outras fazem um drama imenso. Até o Brasil, um país onde se dizem receptivos e “sem preconceitos” é um dos países em que esse é um dos maiores tabus, prova disso foi essa luta por causa de um mero beijo gay masculino em uma novela da globo.
Acho que as vezes os gays exageram na reivindicação dos seus direitos, mas isso nem é culpa deles, uma vez que seria evitado se as leis fossem abrangentes e tratassem todos igualmente, mas infelizmente não é assim. Aqui no Japão as pessoas não ligam muito para o fato de alguém ser gay ou não, as pessoas estão mais preocupadas com as suas vidas do que com o que as outras fazem, e se formos olhar pelo comportamento que algumas pessoas julgam ser gays, em alguns países isso nem sempre é assim, na Índia por exemplo alguns homens andam de mãos dadas, e isso acontece em muitos países islâmicos e isso não tem nenhuma relação a opção sexual da pessoa, ou seja, os valores são completamente diferente do qual muitos de nós estamos acostumados.
Todos nós internamente julgamos os outros, mas o bom senso diz que as vezes (na maioria delas) é melhor não externar o que pensamos, e assim mantemos a diplomacia e o convívio social harmonioso, então independente do valor, atitude, costume, ou estilo de vida que o próximo tenha, cabe a nós respeitar, desde que isso não invada seu espaço, mas ai são outros 500.
Morar do outro lado do mundo me fez ter novas experiências, sei que já está pensando merda, mas não é isso haha.
Resolvi morar no Japão quando tinha acabado de entrar na maioridade, ou seja, minha formação adulta foi totalmente sozinho, aprendi a me virar e a ter responsabilidade(mais ou menos) longe da minha família.
Nesse tempo tenho tentado aprender novos idiomas e aperfeiçoar outros, apesar de ter preguiça de estudar, então vou para os bares faço amizades e fico conversando, assim pratico outro idioma, além de renderem outras coisas.
No último fim de semana sentaram na mesa do lado uma espanhola e uma argentina, mas chegaram com elas uma filipina e “uma japonesa”, que na verdade era um travesti, Yuki, o nome “dela”. Eu tava na minha de boa assistindo o jogo como sempre faço e tomando meu gin, ai elas me pediram para tirar uma foto da galera, nisso elas já tinham enturmado com as japonesas da mesa do outro lado e assim comecei a conversar com elas.
Papo vai e papo vem, a espanhola e a argentina acharam engraçado o fato de eu ser brasileiro e a sorte de não terem falado nada sobre eu, até porque eu estava entendendo a conversa delas (haha), a Yuki começou a dar conselhos para as japonesas da outra mesa e olha só que traveco parceiro, começou a fazer a minha fita pra uma das gurias.
Curioso era a reação da maioria das pessoas no bar, normalmente os caras olham a mesa cheio de mulheres e chegam puxando assunto, quando viam que tinham um travesti eles desistiam, eu apenas fiquei rindo e observando, até começar a conversar com as gurias.
As latinas foram embora e me juntei a mesa com as japonesas, a conversa era a de sempre, o pessoal curioso porque tenho cara de japa, mas sou brasileiro, quanto tempo moro aqui, onde moro, o que gostamos de fazer, etc.. etc… até que a Yuki começou a falar bem de mim para a Ai, sem nem me conhecer, aliás conversei bastante com a Yuki, independente da escolha da pessoas é super gente boa.
Não demorou muito a conversa com a Ai engrenou, ela fala um pouco de inglês e estudou um pouco de espanhol na faculdade, assim que começamos a conversar mais, tal qual um brother, Yuki retirou-se da mesa junto com sua amiga filipina.
Quem me conhece sabe que não sou uma pessoa de boa, só não gosto de gente burra, mas pode ser travesti, gay, pansexual, nada disso muda o caráter da pessoa, tenho até alguns amigos gays, mas sinceramente nunca imaginei que conheceria um travesti assim dessa maneira, conversando de boa, e muito menos que ele me ajudaria a pegar mulher.